segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ARTIGOS

O melhor lugar para formar o professor

A capacitação da equipe também se faz na própria escola, pois é ali que se tem contato com as reais dificuldades da sala de aula

Muitos são os fatores responsáveis pelo surgimento de um verdadeiro mestre, mas um é o mais importante: o aluno. Antes do contato com ele, podemos ser estudantes, intelectuais, conhecedores de conteúdos, pesquisadores etc., mas ainda não somos professores. É ele que desperta em nós o desejo de ensinar - e não apenas nossos sonhos, títulos, concursos ou projetos.
Eu sempre percebo - e cada um de vocês certamente também - que os estudantes nos fazem melhores quando saímos de uma sala com a sensação de que constuímos uma boa aula juntos. Algumas vezes, deixamos uma classe com a certeza de que tudo correu bem e em outra temos a impressão de que nada funcionou, mesmo tendo dado - praticamente - a mesma aula. Por quê? Porque é a turma que está ali na nossa frente que nos constrói. O aluno nos desloca e provoca ao colocar desafios que nenhum professor nos trouxe na faculdade nem na pós-graduação. Depois do contrato com jovens questionadores, sentimos que somos melhores do que após enfrentar grupos sonolentos, indiferentes ou cínicos em relação ao nosso trabalho.
Sendo assim, o primeiro lugar que nos permite ser professores e que nos faz nascer como tal é justamente a escola. Estão certos os diretores e os responsáveis pelas políticas públicas que reconhecem isso e reservam na rotina escolar um tempo destinado única e exclusivamente para a formação de professores.
Contudo, não basta apenas reservar um espaço na agenda coletiva. É preciso dar condições ao formador - papel sob responsabilidade do coordenador pedagógico - de colher subsídios com a equipe docente para planejar a formação e avaliar os resultados dessa iniciativa na e para a escola, como mostra a reportagem de capa da edição de abril/maio de NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR.
Para criar na própria escola um clima de aprendizagem, cabe ao gestor:
* Garantir que durante a formação os professores possam falar sobre as dificuldades relacionadas ao ensino e à aprendizagem enfrentadas na sala de aula para a análise e o debate com os colegas.
* Estimular que as boas soluções sejam apresentadas ao grupo e sirvam de modelo na resolução de situações semelhantes que possam vir a acontecer, dando ao coordenador pedagógico a oportunidade e as condições de revelar a teoria que embasa a prática - afinal, nada mais prático do que uma boa teoria, que explica, faz avançar e articula um fato com outras realidades e outros tempos.
* Usar os conselhos de classe como espaço de formação e não como um lugar de maledicência contra as crianças. Uma vez propus que os alunos assistissem às reuniões dos conselhos e foi um alvoroço entre os docentes, pois muitos achavam que teriam de medir palavras e fazer encaminhamentos ponderados. Claro que isso nem sempre é fácil. Exige formação para tanto. E esta é outra função dos gestores: fazer a formação em serviço... e a serviço do estudante.
* Incentivar o reconhecimento dos esforços dos alunos pela equipe docente, com cuidado para não haver bajulação nem discriminação. Centenas são as boas atitudes que merecem atenção, só nos falta um radar para captá-las - embora ele não nos falte na hora de apontar comportamentos inadequados.
* Trazer convidados de fora que falem sobre temas complementares à formação do professor. Mas nada de ficar no genérico. É preciso verificar quais os problemas que aparecem com frequência entre os docentes e aí, sim, trazer um especialista para tratar do tema.
Esses itens são apenas alguns que podem incentivar os gestores a aproveitar os espaços previstos para reuniões pedagógicas para formar seus professores e - por que não? - formar a si mesmos.

Fonte: Revista Nova Escola, Ed. Abril, São Paulo:abril 2010
Fernando José de Almeida, é filósofo, docente da Pontífica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e vice-presidente da TV Cultura - Fundação Padre Anchieta.



Mulheres dos anos 90 são emancipadas mas vivem atrapalhadas
Márcia Guerreiro

Ao fim de duas décadas de uta contra o avental, enfrentando o nariz torcido do marido, a manha dos filhos e a discriminação da sociedade, as mulheres concluem que ganharam muito. Muito mais trabalho. Conquistaram o tailleur. Mas tiveram de combinar o novo modelo com o velho avental. Conseguiram igualdade em relação aos homens. Mas continuaram carregando as velhas funções da mãe, mulher e dona de casa dos tempos das avós. Resultado: a mulher dos anos 90, apesar de emancipada, é atrapalhada.
O novo conceito é delas e serviu de tema para o livro Vida de mulheres - cotidiano e imaginário,, da socióloga e psicanalista Marina Massi (...). Marina estudou mulheres de 30 a 40 ano, da classe média, nível superior, mães que trabalham. "Essa geração, além de atender as exigências da família, vive o trabalho como agravante da situação, porque agora ele é considerado uma obrigação e não apenas uma conquista", explica Marina. Surge a "síndrome da mulher atrapalhada", segundo a psicanalista.
"A maioria delas interiorizou um discurso no qual, se deixar de cumprir uma de suas tarefas, se sentirá fracassada", diz. Mas ninguém consegue ser supermulher. A constatação leva todas elas a uma vida complicada. "Passo por esse conflito diariamente porque sou obrigada a abrir mão de parte do trabalho ou das tarefas domésticas se quiser ser mulher e profissional", admite Bárbara Altstadt, 33 anos, mãe de dois filhos.
Obrigações - Essa parte deixada de lado pesa na consciência. "Faz parte da gente a obrigação de cuidar de tudo sem deixar nada para trás", explica Bárbara. No seu primeiro casamento, ela assumiu o papel exclusivo de dona de casa. Não suportou o tédio e, dois anos depois, se separou. De volta ao Brasil, assumiu a direção administrativa e financeira da empresa da família e, ao lado do irmão, chegou ao sucesso. Vive o segundo casamento, agora como mãe, mulher e sócia do famoso Bar Sinfonia, nos Jardins.
Era tudo o que queria. Ou quase: "Meu lado mãe de vez em quando fura". Há dias, o professor do seu filho de 11 anos mandou um recado a Bárbara anotado no caderno do aluno. "Depois de quatro dias, quando ele cobrou a resposta, não acreditou na criança que disse não tê-la porque não me via há quase uma semana". Para o professor, foi uma surpresa. Para Bárbara, uma "dor".
A autora do livro Vida de mulheres - cotidiano e imaginário garante que o sentimento faz parte da vida de todas as mães que trabalham. Para Marina, as mulheres deveriam se unir na solução do problema. "Já que a sociedade exige delas um bom desempenho como profissionais e mães, deveria dar infra-estrutura em troca, como escolas em período integral, por exemplo".
O Estado de São Paulo, 2 nov. 1992

Fonte: Livro Textos: Leituras e escritas, ed. Scipione,São Paulo: 2006

Grupo das 7 mulheres:
Arleide – RA 1016930
Edirailde – RA 1015435
Louri Sônia – RA 1011011
Marisa - RA 1015345
Roseli – RA 1010159
Rosiele – RA 1010243
Rosinalva – RA 1015452

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